31/12/2009

2009

No primeiro dia de 2009, eu fiz aniversário. Comemorei ao lado de alguém especial, na casa de um amigo tatuador meio bêbado, ou bêbado e meio.
Me mudei de casa, de cidade, de vida. Conheci pessoas maravilhosas, pessoas que não quero esquecer nunca mais. Mas também perdi pessoas que amava.
Fiz loucuras, experimentei coisas que nunca tinha experimentado, tomei porres sozinha, abandonei o jiu-jitsu, fiz yoga.
Amei demais, me decepcionei demais. Descobri que nem sei quem é meu pai e também cheguei à conclusão que se ele estivesse vivo, estaria tocando pandeiro, cantando algo quente, familiar para mim.
Menti sobre dores pra ir embora da escola, senti tesão por quem não deveria, me masturbei escondida.
Peguei o Mário (atrás do armário), fui pro Suvaco do Brasil e fiquei louquíssima.
Ah, só eu sei o quanto foi gostoso e o quanto foi amargo.
Desenhei menos do que deveria, estudei menos ainda.
Corri atrás do que achei que deveria correr, experimentei novas linguas também.
Bati, apanhei, gemi, gritei.
Fugi para lugares paradisíacos e desertos, roubei, trepei pra valer, ri demais com as amigas que amo.
Dormi mais do que deveria, contei segredos que pensei que nunca ia contar.
Deixei as unhas crescerem, raspei a cabeça, arrombei a minha orelha.
Chorei muito pouco.
Mentira, eu chorei bastante.
Chorei quando beijei um pensando em outro, quando não senti amor, quando senti medo do escuro.
Contei até três 569456456421 vezes pra tomar coragem.
Tirei notas ruins na escola, fui reprovada no segundo ano do ensino médio.
Me cansei de escrever alguns textos e os terminei assim.

27/12/2009

Me usa, me abusa, vem e me morde, me fode, me sacode: rasga minha blusa.
Eu aceito, me sujeito, nem que seja só pra escutar BB King desmaiada no seu leito, encostada no seu peito, satisfeita daquele jeito.

24/12/2009

Faltar algo é pior que sofrer por algo que falta.
Do sexo ao sentimento, esses são os meus pólos.
Nem vem, não tenta entender, nem decifar nada, não tem nada que eu queira explicar bem.
É sempre bom ter papel e caneta à mão.
Sabe a sensação se sempre estar faltando algo?
Tudo se limita à SIM e ÑÃO.
eu não sei o que to fazendo, mas tenho que fazer.
tem mulher gemendo no meu ouvido, isso tá um inferno, meu deus.
de repente o dedo sai sujo de sangue, acho que estava gostoso demais pro meu gosto.

você vai ser mais um que vai me perguntar sobre esse texto no msn? ¬¬ saco

20/12/2009

Eu to vendo elefantes pintarem.
Wish you were here é a música que toca.
Eu não sei o que acontece comigo, de tempos em tempos fico sobracarregada assim. Daí não tem nada que resolva, nem desenhar, nem escrever, nem sair, nem tentar esquecer, nem me enganar. É a hora em que as coisas batem de frente e já não existe mais pra onde fugir.
Eu vim pra cá e perdi tudo, eu tive o pior ano da minha vida. A prova está nesse blog de merda, que praticamente só tem reclamações e lembranças das coisas que já se foram.

E agora já se foi mais um ano, é quase natal e quase ano-novo, eu já não tenho mais o que fazer ou com o que me preocupar e isso é algo que me assusta e me frustra bastante.

14/12/2009

Eu quero mais é assar batatas naquela forma velha de aluminio, naquele forno dificil de acender.
Eu quero mais é jantar aquele risoto ruim, com tomate e orégano, vendo a cadela lamber parede até fazer buraco.
Eu quero mais é passar raiva quando algum amigo chegar e fazer morrer de vergonha por conta dos barulhos que escutou.
Eu quero mais é rir quando a mãe chegar e dizer que 'a cachorra hoje vai dormir no sofá'.

ahh eu quero.
Estou me soltando, caindo, caindo, caindo e depois girando, girando, girando.

10/12/2009

É agora, só faltam dois minutos pra música acabar.
Eu to cantando alto, eu to gritando e digitando antes que acabe e a euforia passe.

QUANDO O SOL BAAATER NA JANEEELA DO SEU QUAAARTO, LEMBRA E VÊÊÊ QUE O CAMINHO É UM SÓÓÓÓ.

é isso que me mata, é isso que me faz feliz.

-Nós estamos completando dez anos de conjunto, foi um ano muito dificil, mas também foi um ano muito bom. Quem deu força pra gente foram os nossos grandes amigos, Os Paralamas do Sucesso. São os nossos padrinhos, nunca se esqueçam disso.

04/12/2009

Eu amo o seu sexo

Coisa estranha. Ouvindo reggae eu senti a textura daquela barba feita no meu pescoço e a quentura do lábio grosso na minha boca. Cheirinho bom, pele morna, cabelo com alguns fios loiros, fino como de um nenem.

Transando no corredor de trás da casa, na cadeira vermelha de boteco, gelada. Uma, dois, três, quatro, cinco vezes. Embebidos no suor, moles de tanto gozo, satisfeitos por algum tempo, sorrimos um para o outro com ar de "eu amo o seu sexo".

Certa vez foi no onibus. Trepamos com tanta vontade que quebramos a poltrona. Rimos igual dois idiotas, rimos até o tesão passsar, até os olhos lacrimejarem, e depois ficarmos nos olhando igual dois bestas, com cara de "é, não tem jeito, eu amo o seu sexo".

Lembrar é engraçado, é provocante, é frustrante, é tudo. É o Diabo da Tentação.

30/11/2009

Prazer, meu nome é Desânimo.

Ontem, em meio a um show, eu chorei. Chorei e ri, gargalhei mesmo. É que um homem tocava pandeiro e na minha cabeça um sorriso se abria e repetia sem perder o fôlego que "Madalena, Madalena, você é meu bem querer e eu vou falar pra todo, eu vou falar pra todo mundo que eu só quero é você".

Eu estava fora do ritmo, continuo até agora. As horas não condizem com o que eu acho que deveria ser. O tempo passa rápido demais, o tempo passa lento demais.

22/11/2009

Taberna do Ogro

To adorando tudo isso.

Ontem foi um dia divertido, diferentes dos meus últimos dias. Saí com dois amigos e uma pessoa que começa a fazer com que eu me sinta diferente.
Sentados no banco, eu e ele, chega o vendedor de flores de veludo.

-Compra, entrega pra ela e se declara.

Em meio a risos e um pouco de vergonha, ele comprou e disse uma coisa bonitinha pra mim.

Na volta pra casa, meio embriagado (e eu também) veio deitado no meu ombro, quase dormindo, parecendo um menino ou alguém que eu já conhecia há muito tempo.

Só, mais nada.

16/11/2009

To mais calma, mas vou dormir com cara inchada de tanto chorar.
Minha mãe não pagou minha conta de energia, eu não tenho um emprego, eu vou mal na escola, eu estou enlouquecendo de saudades.

14/11/2009

Minha entediante sucessão de sonhos

Estava dormindo na rede, com o meu edredon (termina com n ou com m?) que é sempre menos quente que todas as outras cobertas. E é só por isso que eu gosto dele.

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Um maluco jogava meus desenhos no rio e eu nadava como uma louca desesperada pra alcançá-los de volta.

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Um monte de gente que eu não conheço bebendo cerveja na minha casa.

11/11/2009

O segundo pesadelo

Indo para o supermercado com mais uns quinze desconhecidos atrás de mim. Tô de meias, o chão está molhado da chuva. Vejo pessoas correndo na direção contrária à minha, com extintores e mangueiras de água na mão. Quando me viro, vejo que é a minha casa que pega fogo.

Minha mãe está na porta e está diferente. Está com metade da minha altura, cabelos muito longos e presos, o rosto brilhando de tanto suor. Se algo pode me assustar nesse momento, nem é minha casa em chamas, mas sim minha mãe rindo desesperadamente enquanto tudo o que a gente tem está sendo consumido pelo fogo.

Comecei a correr em direção à minha casa, sempre com aquelas pessoas desconhecidas atrás de mim, coisa que me incomodava muito. Peguei a mangueira do jardim, entrei no meio do fogo e apaguei tudo sozinha. Só então é possível ver o cenário de destruição, tudo preto, em cinzas, com curiosa exceção dos meus pertences.

Agora minha mãe (que nem é minha mãe) chora.

-Calma mãe, eu sei que já é a segunda vez que passamos por isso, mas não vai acontecer novamente.

08/11/2009

O sonho de hoje.

Antes que a tinta da caneta que usei pra escrever na mão saia e eu me esqueça de escrever sobre isso.

Eu estava andando com o meu verdadeiro pai na rua de trás do meu prédio. O cenário era totalmente diferente desse daqui do centro, o chão era de terra, lambuzado de lama e estava escuro. Eu via pessoas passando do meu lado, conversando baixo e me metiam medo. Meu pai era estranho, magro demais, meio baixo, andava se arrastando e estava fumando um cigarro.
Escutei um barulho alto, me dei conta que era um tiroteio e saí correndo pela rua que era única. Me deparo com outro tiroteio logo mais à frente e percebo que estou no meio de um confronto. Sem ter pra onde correr, minha única saída foi arrombar uma porta de madeira, de uma casa velha. Entrei correndo e nem me lembrei do tal pai. Ele que ficasse para trás. A casa cheirava a mofo, lodo, coisa azeda do caralho. Nem tinha gente lá dentro, aproveitei pra me esconder no quarto.
Abaixada entre a cama e o guarda roupa, no escuro e sem ver porra nenhuma, a luz se acende. Um homem da cara sem cara aponta uma arma pra mim. Quatorze tiros na barriga, que depois eu tirei como se tiram espinhas.

07/11/2009

Eu nunca tinha vindo pra Goiânia à noite. No meio do caminho, a maior quantidade de vagalumes que já vi na vida, o céu em tons de rosa por causa do frio e a cidade brilhando bem longe.

05/11/2009

Lying

Às vezes (só às vezes), e de leve (bem de leve), sinto saudades da cobertinha azul.

04/11/2009

omfg.

Hermit crabs and cowry shells Crush beneath his feet as he comes towards you He's waving at you Lift him up to see what you can see He begins his focusing He's aiming at you And now he has cutaways from memories And close-ups of anything that He has seen or even dreamed And now he's finished focusing He's imagining lightning Striking sea sickness Away from here Look who's laughing now that you've wasted How many years and you've barely even tasted Anything remotely close to Everything you've boasted about Look who's crying now Driftwood floats, after years of erosion Incoming tide touches roots to expose them, Quicksand steals my shoe, Clouds bring the f-stop blues Look who's laughing now that you've wasted How many years and you've barely even tasted Anything remotely close to Everything you've boasted about Look who's crying now.

01/11/2009

Em sequencia

Eu quero muito chorar. Quero chorar pelas coisas que perdi, pelas oportunidades que não tive, pelas ocasiões que nunca vou viver.
Quero chorar pra alcançar os meus sonhos, pra esquecer tudo o que já foi, pra relembrar o que já estou esquecendo.
Se não der pra chorar, quero só dormir. Dormir por um ano ou mais, deixar que as coisas se resolvam por si só e mais nada.
Quero chorar de saudade, saudade de roubar café dos professores com o Sonim, saudade de jogar Bomberman com a Marcela, de andar de bicicleta com o Ricardo e de rir junto com a Renata.

Tomara que eu desenferruje (é com g ou j?). Quero voltar a ser eu, preciso colocar tudo isso pra fora, seja nesse blog inútil ou nas folhas A3, com caneta mesmo.

Sei lá.

Acho que fazendo arte, tudo se resolve. É ver a tinta secar no papel que me faz ficar calma, que me faz ter vontade de trabalhar, de me sentir realizada.
É só não interromper, eu quero escrever algo mas não consigo. Já foram sete textos que comecei e travei na segunda frase, isso precisa fluir.
Eu quero dizer que a minha vida tá tensa, tentebrosa, tentadora, toda fodida.
Listei tudo o que aconteceu de ruim nesses meses pra um amigo e o que mais me machuca é a idéia de não saber quem é meu pai.
Eu quero um cigarro, eu quero parar de fumar.

Eu costumo ter o homem que quero, costumo ir onde quero, costumo comprar o que quero. Nunca tive muito limite, meu professor de biologia disse. Deve ser por isso que agora estou me sentindo enlouquecida.
Não quero nem re-ler tudo o que escrevi. (Viram só?, estou me adequando às novas regras gramaticais.)

Preciso de fazer um desenho que nunca fiz, de ler um livro que nunca li, de ficar efusiva com um filme novo e de transar como nunca transei. Qual o nome pra isso tudo? Sei lá.

25/10/2009

É engraçado entrar na minha casa e ver o tapete que diz "Lar feliz".

19/10/2009

Conjugando a semana

Eu choro, tu choras, ele chora. Nós choramos, vós chorais, eles choram.

Esses dias têm sido pra mim como viver no olho de um furacão. Cheguei à conclusão que a mentira é a coisa que mais tem poder de machucar o ego do ser humano, e, pra saber disso, basta ter sido enganado uma vez na vida.
(E ter mentido também.)

Eu minto, tu mentes, ele mente. Nós mentimos, vós mentis, eles mentem.

Talvez a melhor saída pra tudo seja dormir. Fechar os olhos e não ver o tempo passar, não ver o que as pessoas fazem ou deixam de fazer, não ter conhecimento de nada, até que a tempestade se acalme e tudo volte a ser como antes.
Eu nem me lembro mais como era, esse tal "antes" que agora é como um sonho, um monte de imagens e sons desconexos que aparecem e desaparecem quando querem, sem qualquer explicação.

Eu engano a mim mesma, tu enganas a si mesmo, ele engana a si mesmo. Nós enganamos a nós mesmos, vós enganais a vós mesmos, eles enganam a eles mesmos.

Afinal de contas, qual é a verdade?

18/10/2009

Ressaca moral

Foi fogo de palha.
Eles vêm, depois vão e eu nem percebo, nem faço questão disso.
Um anteontem, outro ontem, um hoje, mais um amanhã e assim até que acabe tudo.
Talvez seja melhor dessa forma, não corro riscos de viver coisas repetidas.
Fora o medo de ser sozinha e de perder meu ultimo celular, estou bem.

12/10/2009

Bad to the bone

Hoje eu acordei meio "Song 2".
Andei pela casa meio "I remeber you", mas depois sorri meio "Lucy in the sky with diamonds".
Vi umas fotos meio "Stand by me", cheguei à algumas conclusões.
Evitei com todas as minhas forças "I'm yours", "Wake me up when Setember ends" e "Try to get you".
Organizei a sala no ritmo de "Jackson", prometi pra mim mesma que "Lake Charles" é um bom lugar pra se viver e desejei um cigarro meio "Light my fire".
Me deixei ser tocada por "21 guns" e saí correndo pra "Psycho a Go Go".
Olhei pra baixo meio "Hey Jude" e agora to pensando em como terminar esse texto.
É, quero acordar meu lado "Bad to the bone".

07/10/2009

Já era hora de eu parar

É inevitável não falar sobre isso. Eu ainda encontro os resquícios de algo que acabou de começar a acabar pela casa. São cartas, fotografias, bilhetes, papéis de bala e CDs...
... e estão por todos os lados, nos lugares mais improváveis, menos visitados, mais escondidos, mais marcantes até.
Cada pedacinho de papel me faz lembrar um cheiro, um lugar, um gemido, um abraço, não esquecidos, mas que dormiam em algum lugar da mente.
De meias, ouvindo The Strokes, aquela música em que eu era um trem me movendo muito rápido e você havia me alertado sobre isso.
Não quero fazer mais nenhuma fogueira, já foram cinco no meu jardim. Quero abraçar esse monte de papel e chorar até me desfazer, mastigar todos eles, colocar pra dentro de mim, fazer ser parte de mim mais uma vez.
Já era hora de eu parar.
Agora me resta seguir sozinha.

04/10/2009

Fingindo ser o observador

To aqui na janela, olhando escondida pra menina sentada no sófá. Ela tem nas mãos um bloco de papel e uma caneta Bic. Está assistindo televisão, um canal chamado Play TV. Estão passando clipes e daqui eu a vejo anotar os nomes de cada um.
Ela tem o cabelo vermelho, na altura do ombro e usa all star preto. Está com um colar com tag da Coca-Cola, aquele escrito Light, o mais bonito de todos.
Ela olha ansiosa para o relógio o tempo todo. Se levanta, vai até o seu quarto, vai para o banheiro e de novo para a sala. Impaciente, olha pro relógio mais uma vez e conclui que já são quase seis horas. É nessa hora que começa a tocar uma música bonita, aquela chamada Lama, da banda Luxúria. Ela pega o bloco e anota o nome de mais essa. Arranca a folha com cuidado, diz algo pra mãe e está saindo de casa agora, com o seu moletom preto escrito Motorcycle. Talvez ela tenha dito que está indo pra casa de uma amiga, ou para a igreja, quem sabe.
Voltaaa, não vai embora meu amooor, sem ameaças ensaiadas na frente do espeeelho... - a TV continua ligada.

02/10/2009

A história do medo da chuva e alguns complementos

Era engraçado ter nove anos de idade. Eu fazia catequese e a professora com cara de Elaine ensinava sobre os santos. Se a gente fizesse promessa, o santo cumpria. E foi o que eu passei a fazer. Mil Pai-Nossos pro um, mil Ave-Marias pra outro e um sem tanto de Credos para os que sobrassem.
Quando eu me deitava com muito sono, juntava as mãos em posição de oração e dizia: "Deus, avisa os outros santos que vou pagar as minhas promessas." Eu nem me sentia mal caráter por isso. Só tive esse sentimento duas ou três vezes, sendo uma delas quando cocei a bunda e peguei na Bíblia depois. Que coisa mais desrespeitosa, aposto que Jesus está bravo comigo, era o que eu pensava.
Todo domingo minha avó me obrigava a ir em uma igreja assustadora, onde um monte de mulheres de meia idade, cabelos compridos e rosto oleoso gritavam durante algumas horas, na tentativa de se fazerem ser ouvidas por Deus.
Uma vez uma mulher do cabelo grisalho no comprimento do quadril, estava de costas para os fiéis, esperando a revelação que o Pai lhe faria naquela noite e com as mãos erguidas para o alto e os braços tremendo, disse que uma menininha tinha problema de rins. Senti o estômago gelar, uma vontade de vomitar ou arrotar, sei lá, olhei para os lados e só vi gente velha, só vi aqueles velhinhos que fediam pão-de-queijo e aqueles outros que ficavam com a Biblia debaixo do braço, como se tivessem medo de ser roubados. Eu, que estava catatônica, tive certeza que a tal menininha com problema nos rins era eu. Não, Deus tá me deixando doente! Comecei a chorar.
Hoje eu me lembro disso tudo e acho engraçado. Tudo passou, com exceção do medo de chuva. É que sempre que eu a minha avó íamos embora, com uma marca de cruz feita na testa com cinzas abençoadas, ventava forte e no meio da escuridão da rua que nem asfaltada era, eu via os gatos fugindo da tempestade e ouvia os trovões se aproximarem.
A ultima situação engraçada foi com doze anos, quando aceitei ir na igreja com a minha avó pra não ter que ficar olhando pra cara da minha mãe, aquela cara de quem acabou de descobrir o meu primeiro namorado e estava pronta pra me dar umas palmadas. Quando o pastor perguntou se alguém queria dizer algo, minha avó se levantou toda pomposa, de sobrancelhas feitas e unhas pintadas (mesmo após reclamar um dia inteiro de uma crente que tinha pintado o cabelo e isso não podia porque era vaidade), foi até o altar, meio rebolando e pegou o microfone. Olhou pra platéia com os olhos castanhos enormes e aquele rosto de passarinho e gritou um tanto desafinada: "Em nome de Jesus, minha neta vai ser curada! Eu acredito em milagres e essa unha dela nunca mais vai encravar!". Imediatamente, todos gritavam "Aleluia!" e "Glória a Deus!", cheios de júbilo, como diz a Biblia.
Surpreso? Eu também quase morri.

01/10/2009

Já é tudo tão prevísível...
Ouço alguma música, geralmente blues ou folk, olho pra todos os cantos da sala, percorro a casa, olho as janelas do prédio da frente e vejo que estou sozinha. Pego o binóculo, tento me aproximar ao máximo das pessoas que moram ao redor e nem mesmo subindo no parapeito da janela (nem sei se essa coisa aqui chama parapeito) e quase despencando do quarto andar, eu consigo.
Essa tal rotina é uma coisa que vai matando a gente aos poucos e pra saber disso, basta varrer a casa, lavar louça, lavar roupa, tirar poeria, lavar o banheiro, fazer comida, estudar e regar as plantas todos os dias.
Todos os dias, com exceção dos fins de semana, passo seis horas na escola. Converso com os professores, com os colegas de classe, rio bastante, olho de canto de olho o moço forte do cursinho e isso tudo é muito bom. Foda mesmo é ficar as outras vinte e duas horas do meu dia na frente do computador, vivendo a ilusão que de repente, uma web page linda e totalmente inédita vai aparecer na sua frente.

caralho, eu não sei escrever sobre isso.

26/09/2009

Gameleira

Vou te contar, deitada de cabeça pra baixo e olhando pro portão dá saudade de te ver entrar com uma flor na mão e a camiseta do Green Day.
Ontem, quando estava dentro do ônibus, me veio à mente que éramos dois fodedores profissionais. Por favor, alguém me lembre de escrever sobre isso depois.
Tenho poucas horas aqui, talvez duas ou menos.
Vir pra casa da minha mãe foi bom. Vi amigos de muito tempo atrás, fui recebida com lágrimas, chorei junto, ri junto, bebi junto e disse "eu te amo".
Enquanto comia um chocolate e me lembrava da noite que passei fora de casa sem querer, meu irmão me diz que a gameleira morreu. Ela morou no meu jardim por dois anos e quando a adotei, assinei um contrato entitulado da seguinte forma: "Me responsabilizo a cuidar e plantar essa árvore". Sobrou a raíz seca e rígida e a consciência pesada e o coração apertado. Olhei pra ela por algum tempo e me lembrei da noite que passamos, eu e a gameleira, na casa da madrinha. Escondendo a vontade de chorar, pedi pro meu irmão que a enterrasse no canteiro de flores azuis.
Não tenho muito mais o que falar, só me resta contar que há alguns dias olhei pra foto do meu pai e pela primeira vez sorri.
Tenho de ir agora, não posso perder o ônibus de volta. E que venha o sono.

21/09/2009

Essas malditas formigas

Essas malditas formigas doceiras se apossaram da minha mesa. Não tem onde por o dedo, não existe sequer um milímetro de espaço onde não estejam sacudindo o traseiro e mexendo com as suas antenas. Beberam vinho do meu copo, comeram do meu prato, cheiraram o meu cinzeiro (formiga cheira?) subiram no grampeador, invadiram o teclado e até tentaram usar o meu binóculo pra espiar o vizinho da frente. Agora estão indo para as minhas fotografias e eu quero mais é que comam todas elas, salvo a que estou branca como um fantasma, no colo do meu pai.
Elas querem chegar perto de mim, mas essa noite eu estou com medo, está chovendo e eu fiquei covarde. Chega delas por hoje, onde é que coloquei o maçarico?

16/09/2009

Carta branca

-Acho que estou pronta pra um novo texto.

Delícia essa coisa de ficar puxando a alcinha do sutiã. Eu me amo tanto, que nem sei dizer.

Da cadeira, dobro as costas para trás, olhando para o teto. (essa coisa de ficar se espreguiçando como um gato é sensual, né?) Eu não sei o que acontece, é que hoje estou exalando esse cheiro bom, esse perfume doce. E a minha pele está quente.
Passando os dedos pelos ossos da bacia, dá pra perceber um visco, uma coisa envolvente e morna, que me chama pra dentro de mim mesma.
Todo esse tesão deve ser porque acordei e sinto uma felicidade que não sei explicar, consigo me perceber e sei que no braço direito, tenho 18 pintinhas.

Que vontade de viver, de respirar todo o ar do mundo de uma vez só e depois expirar gritando uma dessas músicas texanas que me fazem ficar à flor a pele!

Hoje é um dia feito para o perdão, todos nós temos carta branca. Então vem cá, deixa eu ser a sua fantasia.

08/09/2009

Cáuton

Eu, que um dia troquei o tudo pelo nada, que só fumo “Cáuton” e fico até de madrugada na frente do espelho, espremendo cravos e espinhas, vou dizer algumas coisas bobas.
Eu que um dia acreditei na ressurreição dos mortos pra trazer meu pai de volta, que não consigo digitar com o cigarro na mão, que tiro sempre a lente de contato do lado direito primeiro e só percebo isso depois de feito, também faço poses nua na frente do espelho, adoro levar tapa na cara e planto pimentas no meu jardim.
Eu que choro escutando “Stand by me”, que durmo abraçada com um gato e acordo escutando “Are you gonna be my girl”, quando bêbada, falo dos segredos sexuais, dos piercings escondidos e da saudade de um tempo que nunca mais volta.
Eu que odeio a professora de gramática, que sinto tesão quando desenho e que tomo banho de porta aberta, estava deitada e achei que tudo isso escrito, daria um bom texto.

02/09/2009

O diabo da tentação

Me deitei pra estudar e coloquei o relogio pra despertar dali a uma hora. Não, eu não me concentrei em geografia ou urbanismo justamente por me lembrar de você tapando a minha boca enquanto a gente transava escondido.
Me levantei, andei pela casa, liguei a TV e aquilo parecia me perseguir, latejava na minha cabeça e no meio das pernas também.
Eu tatuei aquele sofá em mim. E ele só tinha os contornos, ninguém sabia o que queria dizer, talvez nem mesma eu soubesse. Enquanto perguntavam, eu olhava para o pulso.
Tudo bem, agora vamos acordar, dizia a professora de yoga nos despertando do transe. Merda, logo agora que tudo parecia real. A única coisa que me lembro é que antes de adormecer, uma formiga andava pelas minhas costas e só agora, virando de lado, vejo ela saindo meio zonza, embebedada com o meu cheiro.
Em casa percebo que meu travesseiro e meu lençol estão molhados. Eu não chorei, eu sonhei com o seu sexo e quase morri de tesão.
O que eu vou fazer quando chegar a noite? Vou ficar ali na janela, vendo a lua se mover até encostar no prédio da frente. E o Diabo da tentação me acompanha, do meu lado e dentro de mim.

30/08/2009

Acho que estou apenas dando um tempo.

Ouvir músicas podres está me fazendo bem e eu quero me sentir livre pra tudo.

25/08/2009

Só rindo

E ainda me chama de descontrolada.

Só faltou mesmo o forno microondas

Olha só que música mais marrom! Não digo isso no sentido ruim. Não é uma música sem graça (apesar do tons de sépia).

Hoje acordei com vontade de nada. Cismei que veriam as cinzas dos meus cigarros pela metade e não consegui mais dormir. Li praticamente o dia todo e peço que não me falem mais sobre Leonardo ou pataca, estou de saco cheio. Não, também não fale do Manifesto Comunista, não me interessa muito saber quem foi Karl Marx.

Arrumar toda a casa foi penoso. Acredite se quiser, eu morei na sala de visitas por três dias. Isso se deu aos poucos, começou com um filme e o colchão no chão, depois cobertores, travesseiros, garrafas de água, de refrigerante, pratos de comida, gato de dormir, cinzeiro, chinelos, livros, controle da TV, celular, incenso e quando dei por mim, a casa toda não estava mais em seus devidos cômodos. Cozinha vazia, quarto vazio. Tudo na sala. Só faltou mesmo trazer a geladeira e o forno microondas.

Há três dias não vejo o sol, o tempo está nublado, levemente frio e chuvoso. Daí a preguiça. Daí o sono. Daí a fome. Daí a falta de dinheiro.

Então, tchau.

Até um violão eu tenho!

Eu queria ter um violão.
Se eu tivesse um violão e cinco reais, iria agora, pra porta da sua casa.
Se eu tivesse um violão, cinco reais e mais um pouco de coragem, estaria indo agora.

Well, since my baby left me,
I found a new place to dwell.
It's down at the end of lonely streetat Heartbreak Hotel.

You make me so lonely baby,
I get so lonely,
I get so lonely I could die.

Olha pra mim, estou na rua esburacada, tem poeira no chão e estou de costas pra casa que tem um monte de plantas na porta. Eu canto alto e me mecho como Elvis fazia. Até um violão eu tenho!
Se você parar de me olhar pela janela do seu quarto, essa janela suja e cheia de teias de aranha e resolver sair aqui na porta, te provo que tudo está como antes. Olha pra cima, vai ver a praça velha de árvores grandes e bancos encardidos. Olha pra baixo, vai ver a estrada de terra e a ponte reformada.
Pode se beliscar, não é um sonho.

23/08/2009

Chuva?

O tempo aqui fechou rápido. Já está tudo escuro e fiquei com medo da energia acabar.
Ainda são seis e meia, é nessa hora que o pôr-do-sol-mais-bonito-da-cidade deveria acontecer, ali, da janela do meu quarto.
Meu colchão está no chão da sala, tem um monte de cobertores e travesseiros. Me deitei lá agora a pouco e me senti tão confortável, que só faltou você chegar de surpresa.
Sabe, já vai começar a chover, talvez nem tenha festival de bonecos na praça Cívica. O que é uma pena, porque ver todas aquelas crianças deslumbradas com marionetes gigantes realmente foi muito aconchegante.
A energia do quarteirão da frente acabou. Daqui a pouco eu não estarei mais aqui. Vou estar ali no colchão, abraçada com o gato e ligando pra minha mãe.

20/08/2009

Realidade

Ah, se soubesse que eu catei as bitucas de cigarro só pra você não ficar chateado quando as visse, que limpei o cinzeiro, que tirei a poeira dos móveis e botei o lixo pra fora. Borrifei bom ar pela casa, pra não sentir o cheiro de nicotina. Reguei o jardim, juntei todos os meus papéis. Lavei a louça, comprei coisas pra por na geladeira. Troquei as toalhas, os sabonetes, abri as janelas pra ventilar a casa. Varri o chão, encerei o piso, limpei os vidros. Apanhei as roupas do varal, lavei as que estavam sujas, guardei as que estavam jogadas. Alinhei os sapatos, escondi meus remedios, escondi meu isqueiro. Limpei o fogão, passei um pano na mesa. Troquei o sofá de lugar, arrumei umas almofadas. Mudei de lençol, de travesseiro. Dediquei algumas horas a um desenho. Nele, todo o meu carinho.
Se você soubesse, você viria.

19/08/2009

Enquanto você grita, eu rio.

Primeiro com o bisturi. Isso, eu vou cortando aos poucos, bem devagar, vendo o sangue verter. Enquanto você grita, eu rio, rio muito.
Você tenta se esquivar, mas te amarrei bem demais pra conseguir fugir, quero cortar por entre os seus dedos. Um, dois, três, quatro, oito cortes. Vê como os seus dedos estão maiores agora, vê como a sua mão se abre bem. Vem cá, deixa eu puxar os seus dedos pra você ver, tá vendo como eles se afastam de uma forma bonita? Eu sei que você tem medo do sangue, mas olha, isso não é nem o começo.
As coisas seriam mais fáceis se você ficasse em silêncio. Prefere que eu te cale com cola ou com o grampeador? Isso meu bem, chega de batom vermelho, fecha a boquinha assim, fecha. Acho que vou primeiro grampear, depois eu finalizo com cola. Faz biquinho agora, como você fazia antes, faz. Isso, não precisa ter medo, nem vai doer. Viu? Um grampeadorzinho de nada, nem fez estrago algum. Já vou avisando que o cheiro da cola é forte, ela vai fazer os seus lábios arderem e os seus olhos lacrimejarem, mas calma, isso não é nem o começo.
Enquanto você grita, eu rio, rio muito.
Você está tremendo, deve ser o frio. Desculpa ter tirado a sua roupa, é que eu precisava ter certeza que não é isso tudo que diz ser.
Tá vendo esse martelo na minha mão? Não, não tenta gritar, isso vai rasgar o seu rostinho bonito. Shh...
Então, como eu ia dizendo, esse martelo aqui é pra quebrar os seus joelhos. Vai sentir uma forte pressão e um estalo, talvez até saia um pouco de sangue, mas vai ficar dormente e só vai sentir dor quando olhar pra baixo e ver as suas pernas tortas pra dentro, com os ossos apontando pra fora. Quer primeiro o direito ou o esquerdo? haha, se não disser, eu escolho sozinha.
Eu sempre quis fazer isso sabia? Sempre que assistia à filmes de terror e via o assassino arrastando o martelo no chão como estou fazendo agora eu me sentia extremamente tentada à ir atrás de você.
Está com medo? Se quiser eu ponho uma música, um filme, quem sabe. Só pra te acalmar.
Seus joelhos ficaram bonitos assim, não acha? Não? Se quiser eu posso bater com o martelo do lado de cá, pra ver se ele volta ao normal. haha, viu? Eu sabia que isso não daria certo!
Eu gosto de canivetes, eles sempre fazem um bom serviço. Não vai ficar ruborizada se eu pegar nesses seus peitos pequenos né? É só segurar na ponta e cortar fora, viu como é fácil?
Para de se mexer, ou eu vou ter que te bater na cara, sua piranha. Já disse, isso é só o começo.
Sabe que me arrependi de ter fechado esa sua boca? Pena eu não ter nada aqui pra tirar esses grampos, vai ter que ser na força mesmo. Ihh, tá rasgando. Ainda bem que você não vai mais precisar aparecer assim na frente de ninguém né?
Me deu uma vontade imensa de cagar e é isso que vou fazer. É por isso que to colocando luvas. Isso vai ser divertido. Come tudo agora, come tudo.
Juro que se não parar de vomitar no meu chão, faço você comer tudo de volta.
Ahhh, não vai chorar agora né? Deixa de ser mole, não vou dizer mais uma vez que eu posso ser bem pior do que já fui.
Espero que não tenha medo do escuro. Se sentir fome, come essa sujeira que você fez aí nas suas pernas, eu só volto amanhã.
Enquanto você grita, eu rio, rio muito.

01/08/2009

Não.

Bebi duas cervejas, comi uma porção de mandioca com molho rosé, pimenta e pouco sal. Gastei quatorze reais, pensei nos mesmos assuntos, me lembrei dos mesmos problemas. Coisas de sempre. Cheguei no meu prédio, vi uma loira feia se matando de olhar no espelho, entrei no elevador quase tendo uma convulsão de tanto rir. Peguei um yakult, sentei no sofá e não gostei do mau-humorado programa de humor que passava na televisão. Vim para o computador, vi o status e cheguei à conclusão de que (ele) ainda não estava na frente da TV, vendo o maldito filme.
Engasguei com o yakult, coloquei "Stand by me", dei boa noite pra minha mãe e acabei de desligar a TV. Acho que agora é a hora.

30/07/2009

21 guns

É arma demais pra mim.


(música que cheira)

25/07/2009

Um copo de vidro, um fone de ouvido

Um copo de vidro, um fone de ouvido, uma garrafa de coca-cola, um sutiã. Tudo em cima da mesa.
Edredon ou edredom velho, frio na cabeça, nostalgia que eu não tenho vontade de deixar ir embora. Hoje é dia de se lembrar daquela rua com marcas de pneus de bicicleta no chão. A mesma que me levou e me trouxe. A rua, não a bicicleta.
Nunca fui de ouvir Nando Reis, to ouvindo só pra me matar. Me disseram que todo esse esforço pra se lembrar é vontade de esquecer. Achei bonito na hora, depois descobri que era letra de música e passei a achar meio banal, talvez verdadeiro.
Vai ver eu gosto de ficar me martirizando assim. É que é bom lembrar daquele perfume, é divertido lembrar dos malucos correndo pelados no campo de futebol. Já faz tanto tempo que eu mal acredito, nem do rosto me lembro mais.
E agora estou me esforçando pra me lembrar. E talvez eu queira mesmo esquecer. E talvez eu só esteja escrevendo isso querendo acreditar que o blog é abandonado, mas no fundo com a esperança de isso ser lido.

Já passou, eu nem me lembro mais.

24/07/2009

Lista das coisas que roubei da minha casa

- Três fotografias; duas minhas de quando pequena e uma do meu irmão, com cinco anos de idade e mão dada à uma namoradinha;
- Um pedaço de papel encardido onde eu escrevi no ano de dois mil e dois, um recado pro meu pai;
- Cinco notas de cinco reais;
- Um relógio-despertador velho;
- Lápis de cor do meu irmão;
- Dois pares de sapato;
- Um blusa da minha mãe que por sinal fica muito bem em mim;
- Alguns pincéis;
- Cartelas de AS. (AS= remédio infantil da embalagem cor-de-rosa e docinho)

Agora é tudo meu.

15/07/2009

Setenta e duas vezes ou mais

Depois que eu liguei pra minha mãe chorando e contando onde estava, entrei no mini mercado pra comprar o passe. O dinheiro, que foi emprestado do porteiro do meu prédio, sobrou ao ponto de dar pra comprar um chocolate.
Sentei no meio fio, eu já não estava mais chorando. Abri o chocolate e me lembrei que comendo aquilo, teria no sangue a mesma quantidade de endorfina que é liberada durante um orgasmo.
Um monte de folhas secas no chão, a árvore das flores cor-de-rosa estava à minha frente, sempre imponete e florida, dessa vez povoada por periquitos. Eles gritavam, comiam os frutos, jogavam as flores ao chão, faziam festa. Ou riam de mim, ou pediam pra eu nunca mais fazer o que eu fiz.
Então eu pude perceber que alheio à tudo, o mundo continuava. As pessoas passavam por mim, os carros iam por onde deveriam ir, as nuvens se moviam, as horas do meu celular mudavam.
Um menininho riu da minha falta de cabelos, eu ri de volta pra ele. Fingi que era um gato, ameacei pegá-lo e o pobre saiu correndo.
Se toca garota, começa a rir, vai te fazer bem. Eu repetia isso mentalmente, duvidando que daria certo, umas setenta e duas vezes ou mais.
Respirei fundo, engoli aquela merda de choro. Larga de ser idiota, eu disse pra mim. Tomei o onibus e nunca mais quis ser louca.

09/07/2009

gota.

De imponente à impotente em um estalar de dedos.
Meu filho vai ter nome de santo, e agora?

06/07/2009

Vômito de palavras

BB King gritava no celular e já eram seis da manhã. Nem sei dizer direito o porque de estar acordada uma hora dessas. Fui ver o único comentário do blog com as pernas bambas, poderia tanto ser ele...

Talvez toda essa vontade que as pessoas têm de ser diferentes é que as tornam iguais. Tão iguais, tão banais, tão naturais que depois de passado o efeito da bebida, elas simplesmente perdem a graça.
Depois de uma semana, fumei. Carlton. Fiquei bamba.
Depois de um baita porre, bebi. Vinho, vodka, cerveja, mijo-de-gato.

BB King está cantando uma música que eu gosto. Eu quase posso sentir o cheiro do lugar, me parece um ambiente impregnado de fumaça, os copos fazem barulho. Tim, tim. Tem luz vermelha, talvez seja um cabaré. Isso inspira a romance, beijo na boca, mão na bunda, tapa na cara e um tiro na cabeça.

When I first met you, baby
Baby, you were just sweet sixteen
When I first met you, baby
Baby, you were just sweet sixteen
You just left your home then, woman
Ah, the sweetest thing I'd ever seen

De mim pra mim mesma. Era assim que eu mandava imprimir nos cartões dos livros que comprava pela internet. Amarelo, azul, verde, branco. De mim pra mim mesma, assinado-Alessandra.

Não consegui ver todos os amigos, uns casaram, outros morreram, uns mudaram, outros simplesmente sumiram.
Ai se sêsse, como diria o poeta Zé da Luz.
Ontem mesmo, vi um filme onde a mulher com cara de Rosa, dizia que se todo mundo soubesse uma só poesia, uma mísera e curta poesia, o mundo seria bem melhor. Coisa de sonhador, como Cazuza, que só quando mais velho e doente, descobriu que queria mesmo ficar em cima do muro.

Agora sim, Heartbreak Hotel. Isso sim é o que me marca. Aquele sofá branco, os copos de cerveja, as balas de chocolate, a música. Eu sinto a temperatura daqueles dias, eu me lembro dos banhos de chuva.

Eu comecei com BB King, terminei com Elvis.
As coisas tomaram outro rumo e isso pela segunda vez, também é uma metáfora.

04/07/2009

Das antigas. Fevereiro de 2008.

Ela sempre permaneceu imóvel. Ficava em cima da escrivaninha. Muda e hirta como sempre. O papel já estava desgastado e havia manchas sobre ele. Não era uma impressão muito boa, tinha os tons das cores meio fora do padrão, deixando o beijo mais cor-de-rosa que o normal. Tinha seus lados dobrados com pouco primor. Um vinco no centro formava duas metades que se sustentavam.
Trazia consigo uma mancha desbotada em cima do ombro da menina. Partia do centro e se espalhava em forma de gotículas. Parecia água, quem sabe uma lágrima.
Se encontrava entitulada da seguinte maneira: "Alê e Totoin, te amo porque é só você."
Me espanta o conteúdo de um simples pedaço de papel. Afinal, não passava de uma imagem congelada. Apenas uma fotografia. Calada. Quieta.

20/06/2009

Sou foda.

Tou onde quero, como eu quis. Falo com quem quero, na hora que quero. Bebo o que quero, fumo o que quero, durmo se quiser. Tenho minha familia e alguns poucos amigos. Pro inferno. Sou foda e ele não vai me botar pra baixo.

08/06/2009

É só uma vez no mês

O texto pode ser prematuro, daqueles que só saem em dia de TPM (deus queira que eu esteja de TPM), a arte pode ser solitária e egoísta e a ressaca moral pode ser apenas ironia do destino. Basta que todas as mudanças aconteçam pra que as coisas continuem como estavam.

Dor na coluna, lenço no pescoço, faz frio aqui. Isqueiro, cigarro, relógio, sofá, televisão, cinzeiro reciclado, fumaça. Lâmpada, mosquito, faz frio aqui. Chão gelado, janela fechada agora. Cadeira, computador, windows media player, música. Unha na boca, dedo na boca, cigarro. Piso marrom, dor na coluna, chão gelado, sofá, televisão. Cigarro apagado, isqueiro, cigarro aceso. Cigarro no fim. Bocejo. Escuro.

26/05/2009

Pronto

Pronto. Do branco e vermelho fez-se o rosa. Rosa é gay, mas a gente taca preto por cima e um pouco de verde, fazemos um gnomo, um caramujo e uma flôr. Depois disso, os dedos grudando de tinta, duas latinhas de leite condensado e um cigarro bastam.

21/05/2009

Letra da música

Estou sentada, corcunda, com o rosto melado de chorar e pensando em como escrever isso da forma menos idiota possivel. Eu nem sei se ainda tenho algo pra escrever, to com vontade de pular do quinto andar. Não ria, é o ultimo andar do meu prédio.
Nada mais perturbador do que uma mudança de estado civil e eu não estou falando de mim. Onde está você agora? Não, eu não estou perguntando, é só a letra da música, não pense que estou sentindo sua falta.

Chega de contradições, não me aguento mais.

17/05/2009

Por orgulho ou por medo.

Eu não esperava por ninguém naquele dia. Já não fazia diferença se ele estava por perto ou não, eu havia aprendido a me enganar. Maldita fossa! A campanhia toca. Abro a porta e mal posso acreditar, isso é um baita de um pesadelo. Me abraçou, estava com o perfume de sempre. Senti as costas largas, ele estava mudado, crescido, irreconhecível. Entrou na minha casa e isso também é uma metáfora. Jogou as coisas no sofá com o jeito de homem-da-minha-vida, pediu um livro. Eu encontro meus livros da minha cadeira, demoro meio segundo para isso, mas levei longos quatro minutos para achar o maldito Cidadão de papel. O que ele está fazendo aqui?
Senta, eu disse. Está tarde, tenho que ir. É que vou dormir em uma amiga, explicou, em voz meio baixa. Dei o ultimo abraço, que ele não correspondeu, por orgulho ou por medo, e o mandei embora, você não vai deixar a garota esperando, não é mesmo? A porta do elevador fechou mais lentamente que o normal, o botão térreo foi acionado, e, por orgulho ou por medo, eu não me abalei.

16/05/2009

É hora de escrever.

É hora de escrever.

Existe algo melhor do que ouvir uma música que tem cheiro?
...
...
Tá.
Quem aqui já ouviu uma música que tenha cheiro que levante a mão.
Droga, eu sabia que seriam poucos!
Estão vendo? Se fosse um número considerável de pessoas, eu até falaria sobre isso.
Vou dormir.

14/05/2009

É hora de contar carneiros

Eu já fumei todos os cigarros e ouvi todos os sambas que poderia. É hora de contar carneiros.
Quero colocar os pés na terra, no pó fino e morno.
Já me decidi. Da proxima vez que eu voltar em casa, pego o pandeiro do meu pai e o trago comigo. O tesouro daquele negro, com a bandeira do Brasil e a nota fiscal que eu nunca tirei da bolsa agora vai estar mais proximo de mim.
É o batuque que ouço. Estou no meu quintal, debaixo do velho pé de jaboticaba. O chão é frio por causa da sombra, aqui cheira terra. Aqui é que é meu lugar, estão todos lá dentro fazendo pizza, em cima da mesa de mármore que eu vou quebrar mais tarde, com 9 anos de idade.
Que estranho, eu pensei que meu coelho havia morrido, mas por sinal, ainda não foi pisado pela minha tia gorda.
Será que meus dentes estão em cima do telhado? Mamãe dizia que pra nascer outro, era preciso jogár os velhos em cima da casa.
Esse quintal de cimento que há muito eu desconhecia agora me é tão familiar...
Não preciso chorar mais por causa do meu pitangueiro, meu avô ainda não o podou. A pólvora deve estar no lugar de sempre, assim como meu cavalinho de pau e o papagaio mal'acostumado.
Por deus, eu quero morrer aqui.

06/05/2009

Truth

Eu não escuto a mesma música por tanto tempo assim, ela está apenas pausada.
A voz me impressiona, toca mais que as letras. Ouvindo uma voz dupla e pensando em como não escrever um texto que se pareça com um parto prematuro.
Eles pressionam a língua contra os dentes para pronunciar "truth" (é assim que se escreve?).
Falando em calafrio na costela, eu acabo de puxar os meus cabelos. Na desinência de um parceiro, crie ele pra você. Odeio quando as coisas são doces demais. Quando são mornas e doces e derretem na boca, me delicio. Quando apenas doces, sinto a língua viscosa, quente, dormente.
Tudo bem, se quiser eu troco de música, não, não se aflija, já estou trocando, é, estou trocando.
É melhor eu parar de mecher no cabelo.

27/04/2009

Devaneio

E o sorriso que eu contenho é tão difícil de se segurar! Mordo os lábios, deixo escapar soluços. Não vou sorrir agora, um pouco de paciência minha Flôr, o seu dia chega.
Música francesa, vinho e água de côco. Tudo era tão sem graça quando amarelo e alaranjado! Toma minha filha, um pedaço do meu giz vermelho, sê mulher!
Essa música dá pra escutar, hoje é um dia feito para o parque de diversões.
Wake me up when setember ends, é engraçado conter um sorriso.
Esperar o dia por um cigarro e fumá-lo pela metade.
Ouvir Jimi Hendrix no fim.
É só ter um cadinho de paciência minha Flôr, o seu dia ainda chega.

26/02/2009

Cabelo solto e botinas nunca mais

Sinto saudades de tudo. De calçar botinas, de acordar com o cheiro de pizza caseira pela casa. De dormir com a minha mãe, de ter um chachorro chamado Coló e de jogar os talheres na fossa. Comer terra já foi divertido, assim como queimar minhocas com a pólvora que eu pegava escondida do meu avô.
Me cansei de correr e esconder debaixo da cama pra não ter que tirar bixo-de-pé. Cresci solta como um bixo do mato, andando com os primos pela roça, pela rua. Isso não quer dizer que não tive mãe... eu até apanhava pra tomar banho.
Ver televisão era o que eu mais gostava. Dormir sempre veio em segundo lugar.
Todos os gatos que eu achava na rua eram meus, por decreto oficial de mim mesma. Já comprei brigas com moleques encardidos e maiores que eu por causa de um desses gatos. Só não apanhei porque minha avó me defendeu. Quando fiz suco de papel crepom e dei pra eles beberem é que não me salvei. Apanhei de uns cinco, chorei pitangas o dia todo. Hoje eu acho isso tudo muito engraçado.
Engraçado mesmo foi quando colei o dedo do meu irmão com super cola. Ele passou dois dias com os dedos grudados e eu não tive nenhum remorso.
Dona Tonica vendia laranjinhas perto da minha casa e qualquer moeda que eu encontrava era motivo para ir à casa da velha comprar aquela laranjinha de cereja que eu amava.
Acho que esse tempo bom acabou quando tive meu primeiro namorado, aos doze anos.
Moça que namora não brinca na terra e nem joga bola na quadra do bairro Zulmira. Os gatos que eu tinha desapareceram e eu passei a me sentar de pernas cruzadas. Cabelo solto e botinas nunca mais. Sinto saudades de tudo.