26/09/2009

Gameleira

Vou te contar, deitada de cabeça pra baixo e olhando pro portão dá saudade de te ver entrar com uma flor na mão e a camiseta do Green Day.
Ontem, quando estava dentro do ônibus, me veio à mente que éramos dois fodedores profissionais. Por favor, alguém me lembre de escrever sobre isso depois.
Tenho poucas horas aqui, talvez duas ou menos.
Vir pra casa da minha mãe foi bom. Vi amigos de muito tempo atrás, fui recebida com lágrimas, chorei junto, ri junto, bebi junto e disse "eu te amo".
Enquanto comia um chocolate e me lembrava da noite que passei fora de casa sem querer, meu irmão me diz que a gameleira morreu. Ela morou no meu jardim por dois anos e quando a adotei, assinei um contrato entitulado da seguinte forma: "Me responsabilizo a cuidar e plantar essa árvore". Sobrou a raíz seca e rígida e a consciência pesada e o coração apertado. Olhei pra ela por algum tempo e me lembrei da noite que passamos, eu e a gameleira, na casa da madrinha. Escondendo a vontade de chorar, pedi pro meu irmão que a enterrasse no canteiro de flores azuis.
Não tenho muito mais o que falar, só me resta contar que há alguns dias olhei pra foto do meu pai e pela primeira vez sorri.
Tenho de ir agora, não posso perder o ônibus de volta. E que venha o sono.

21/09/2009

Essas malditas formigas

Essas malditas formigas doceiras se apossaram da minha mesa. Não tem onde por o dedo, não existe sequer um milímetro de espaço onde não estejam sacudindo o traseiro e mexendo com as suas antenas. Beberam vinho do meu copo, comeram do meu prato, cheiraram o meu cinzeiro (formiga cheira?) subiram no grampeador, invadiram o teclado e até tentaram usar o meu binóculo pra espiar o vizinho da frente. Agora estão indo para as minhas fotografias e eu quero mais é que comam todas elas, salvo a que estou branca como um fantasma, no colo do meu pai.
Elas querem chegar perto de mim, mas essa noite eu estou com medo, está chovendo e eu fiquei covarde. Chega delas por hoje, onde é que coloquei o maçarico?

16/09/2009

Carta branca

-Acho que estou pronta pra um novo texto.

Delícia essa coisa de ficar puxando a alcinha do sutiã. Eu me amo tanto, que nem sei dizer.

Da cadeira, dobro as costas para trás, olhando para o teto. (essa coisa de ficar se espreguiçando como um gato é sensual, né?) Eu não sei o que acontece, é que hoje estou exalando esse cheiro bom, esse perfume doce. E a minha pele está quente.
Passando os dedos pelos ossos da bacia, dá pra perceber um visco, uma coisa envolvente e morna, que me chama pra dentro de mim mesma.
Todo esse tesão deve ser porque acordei e sinto uma felicidade que não sei explicar, consigo me perceber e sei que no braço direito, tenho 18 pintinhas.

Que vontade de viver, de respirar todo o ar do mundo de uma vez só e depois expirar gritando uma dessas músicas texanas que me fazem ficar à flor a pele!

Hoje é um dia feito para o perdão, todos nós temos carta branca. Então vem cá, deixa eu ser a sua fantasia.

08/09/2009

Cáuton

Eu, que um dia troquei o tudo pelo nada, que só fumo “Cáuton” e fico até de madrugada na frente do espelho, espremendo cravos e espinhas, vou dizer algumas coisas bobas.
Eu que um dia acreditei na ressurreição dos mortos pra trazer meu pai de volta, que não consigo digitar com o cigarro na mão, que tiro sempre a lente de contato do lado direito primeiro e só percebo isso depois de feito, também faço poses nua na frente do espelho, adoro levar tapa na cara e planto pimentas no meu jardim.
Eu que choro escutando “Stand by me”, que durmo abraçada com um gato e acordo escutando “Are you gonna be my girl”, quando bêbada, falo dos segredos sexuais, dos piercings escondidos e da saudade de um tempo que nunca mais volta.
Eu que odeio a professora de gramática, que sinto tesão quando desenho e que tomo banho de porta aberta, estava deitada e achei que tudo isso escrito, daria um bom texto.

02/09/2009

O diabo da tentação

Me deitei pra estudar e coloquei o relogio pra despertar dali a uma hora. Não, eu não me concentrei em geografia ou urbanismo justamente por me lembrar de você tapando a minha boca enquanto a gente transava escondido.
Me levantei, andei pela casa, liguei a TV e aquilo parecia me perseguir, latejava na minha cabeça e no meio das pernas também.
Eu tatuei aquele sofá em mim. E ele só tinha os contornos, ninguém sabia o que queria dizer, talvez nem mesma eu soubesse. Enquanto perguntavam, eu olhava para o pulso.
Tudo bem, agora vamos acordar, dizia a professora de yoga nos despertando do transe. Merda, logo agora que tudo parecia real. A única coisa que me lembro é que antes de adormecer, uma formiga andava pelas minhas costas e só agora, virando de lado, vejo ela saindo meio zonza, embebedada com o meu cheiro.
Em casa percebo que meu travesseiro e meu lençol estão molhados. Eu não chorei, eu sonhei com o seu sexo e quase morri de tesão.
O que eu vou fazer quando chegar a noite? Vou ficar ali na janela, vendo a lua se mover até encostar no prédio da frente. E o Diabo da tentação me acompanha, do meu lado e dentro de mim.