02/10/2009

A história do medo da chuva e alguns complementos

Era engraçado ter nove anos de idade. Eu fazia catequese e a professora com cara de Elaine ensinava sobre os santos. Se a gente fizesse promessa, o santo cumpria. E foi o que eu passei a fazer. Mil Pai-Nossos pro um, mil Ave-Marias pra outro e um sem tanto de Credos para os que sobrassem.
Quando eu me deitava com muito sono, juntava as mãos em posição de oração e dizia: "Deus, avisa os outros santos que vou pagar as minhas promessas." Eu nem me sentia mal caráter por isso. Só tive esse sentimento duas ou três vezes, sendo uma delas quando cocei a bunda e peguei na Bíblia depois. Que coisa mais desrespeitosa, aposto que Jesus está bravo comigo, era o que eu pensava.
Todo domingo minha avó me obrigava a ir em uma igreja assustadora, onde um monte de mulheres de meia idade, cabelos compridos e rosto oleoso gritavam durante algumas horas, na tentativa de se fazerem ser ouvidas por Deus.
Uma vez uma mulher do cabelo grisalho no comprimento do quadril, estava de costas para os fiéis, esperando a revelação que o Pai lhe faria naquela noite e com as mãos erguidas para o alto e os braços tremendo, disse que uma menininha tinha problema de rins. Senti o estômago gelar, uma vontade de vomitar ou arrotar, sei lá, olhei para os lados e só vi gente velha, só vi aqueles velhinhos que fediam pão-de-queijo e aqueles outros que ficavam com a Biblia debaixo do braço, como se tivessem medo de ser roubados. Eu, que estava catatônica, tive certeza que a tal menininha com problema nos rins era eu. Não, Deus tá me deixando doente! Comecei a chorar.
Hoje eu me lembro disso tudo e acho engraçado. Tudo passou, com exceção do medo de chuva. É que sempre que eu a minha avó íamos embora, com uma marca de cruz feita na testa com cinzas abençoadas, ventava forte e no meio da escuridão da rua que nem asfaltada era, eu via os gatos fugindo da tempestade e ouvia os trovões se aproximarem.
A ultima situação engraçada foi com doze anos, quando aceitei ir na igreja com a minha avó pra não ter que ficar olhando pra cara da minha mãe, aquela cara de quem acabou de descobrir o meu primeiro namorado e estava pronta pra me dar umas palmadas. Quando o pastor perguntou se alguém queria dizer algo, minha avó se levantou toda pomposa, de sobrancelhas feitas e unhas pintadas (mesmo após reclamar um dia inteiro de uma crente que tinha pintado o cabelo e isso não podia porque era vaidade), foi até o altar, meio rebolando e pegou o microfone. Olhou pra platéia com os olhos castanhos enormes e aquele rosto de passarinho e gritou um tanto desafinada: "Em nome de Jesus, minha neta vai ser curada! Eu acredito em milagres e essa unha dela nunca mais vai encravar!". Imediatamente, todos gritavam "Aleluia!" e "Glória a Deus!", cheios de júbilo, como diz a Biblia.
Surpreso? Eu também quase morri.

4 comentários:

Juliana Seffrin disse...

É o que eu penso que é, mas não o que você diz que é?

Kamilla Paes disse...

vai ver num era pra rir mas ri.
=X
lembrei de uma situação eu navegando por um desses sites que tem pedidos de oração tinha um assim:" Divino Pai eterno me ajuda na cura da minha hemorroida."
sei que é coisa séria mas ri absurdo.!

Alessandra disse...

E o pior de tudo é que eu nem me lembrava disso, me veio à mente hoje, do nada. E eu rio disso só de pensar! kpoPKPkopK

Unknown disse...

depois sou eu que descrevo bem... viajei legal nas imagens desse texto...

kkkkk e ri muito!!