26/02/2009

Cabelo solto e botinas nunca mais

Sinto saudades de tudo. De calçar botinas, de acordar com o cheiro de pizza caseira pela casa. De dormir com a minha mãe, de ter um chachorro chamado Coló e de jogar os talheres na fossa. Comer terra já foi divertido, assim como queimar minhocas com a pólvora que eu pegava escondida do meu avô.
Me cansei de correr e esconder debaixo da cama pra não ter que tirar bixo-de-pé. Cresci solta como um bixo do mato, andando com os primos pela roça, pela rua. Isso não quer dizer que não tive mãe... eu até apanhava pra tomar banho.
Ver televisão era o que eu mais gostava. Dormir sempre veio em segundo lugar.
Todos os gatos que eu achava na rua eram meus, por decreto oficial de mim mesma. Já comprei brigas com moleques encardidos e maiores que eu por causa de um desses gatos. Só não apanhei porque minha avó me defendeu. Quando fiz suco de papel crepom e dei pra eles beberem é que não me salvei. Apanhei de uns cinco, chorei pitangas o dia todo. Hoje eu acho isso tudo muito engraçado.
Engraçado mesmo foi quando colei o dedo do meu irmão com super cola. Ele passou dois dias com os dedos grudados e eu não tive nenhum remorso.
Dona Tonica vendia laranjinhas perto da minha casa e qualquer moeda que eu encontrava era motivo para ir à casa da velha comprar aquela laranjinha de cereja que eu amava.
Acho que esse tempo bom acabou quando tive meu primeiro namorado, aos doze anos.
Moça que namora não brinca na terra e nem joga bola na quadra do bairro Zulmira. Os gatos que eu tinha desapareceram e eu passei a me sentar de pernas cruzadas. Cabelo solto e botinas nunca mais. Sinto saudades de tudo.