30/07/2009

21 guns

É arma demais pra mim.


(música que cheira)

25/07/2009

Um copo de vidro, um fone de ouvido

Um copo de vidro, um fone de ouvido, uma garrafa de coca-cola, um sutiã. Tudo em cima da mesa.
Edredon ou edredom velho, frio na cabeça, nostalgia que eu não tenho vontade de deixar ir embora. Hoje é dia de se lembrar daquela rua com marcas de pneus de bicicleta no chão. A mesma que me levou e me trouxe. A rua, não a bicicleta.
Nunca fui de ouvir Nando Reis, to ouvindo só pra me matar. Me disseram que todo esse esforço pra se lembrar é vontade de esquecer. Achei bonito na hora, depois descobri que era letra de música e passei a achar meio banal, talvez verdadeiro.
Vai ver eu gosto de ficar me martirizando assim. É que é bom lembrar daquele perfume, é divertido lembrar dos malucos correndo pelados no campo de futebol. Já faz tanto tempo que eu mal acredito, nem do rosto me lembro mais.
E agora estou me esforçando pra me lembrar. E talvez eu queira mesmo esquecer. E talvez eu só esteja escrevendo isso querendo acreditar que o blog é abandonado, mas no fundo com a esperança de isso ser lido.

Já passou, eu nem me lembro mais.

24/07/2009

Lista das coisas que roubei da minha casa

- Três fotografias; duas minhas de quando pequena e uma do meu irmão, com cinco anos de idade e mão dada à uma namoradinha;
- Um pedaço de papel encardido onde eu escrevi no ano de dois mil e dois, um recado pro meu pai;
- Cinco notas de cinco reais;
- Um relógio-despertador velho;
- Lápis de cor do meu irmão;
- Dois pares de sapato;
- Um blusa da minha mãe que por sinal fica muito bem em mim;
- Alguns pincéis;
- Cartelas de AS. (AS= remédio infantil da embalagem cor-de-rosa e docinho)

Agora é tudo meu.

15/07/2009

Setenta e duas vezes ou mais

Depois que eu liguei pra minha mãe chorando e contando onde estava, entrei no mini mercado pra comprar o passe. O dinheiro, que foi emprestado do porteiro do meu prédio, sobrou ao ponto de dar pra comprar um chocolate.
Sentei no meio fio, eu já não estava mais chorando. Abri o chocolate e me lembrei que comendo aquilo, teria no sangue a mesma quantidade de endorfina que é liberada durante um orgasmo.
Um monte de folhas secas no chão, a árvore das flores cor-de-rosa estava à minha frente, sempre imponete e florida, dessa vez povoada por periquitos. Eles gritavam, comiam os frutos, jogavam as flores ao chão, faziam festa. Ou riam de mim, ou pediam pra eu nunca mais fazer o que eu fiz.
Então eu pude perceber que alheio à tudo, o mundo continuava. As pessoas passavam por mim, os carros iam por onde deveriam ir, as nuvens se moviam, as horas do meu celular mudavam.
Um menininho riu da minha falta de cabelos, eu ri de volta pra ele. Fingi que era um gato, ameacei pegá-lo e o pobre saiu correndo.
Se toca garota, começa a rir, vai te fazer bem. Eu repetia isso mentalmente, duvidando que daria certo, umas setenta e duas vezes ou mais.
Respirei fundo, engoli aquela merda de choro. Larga de ser idiota, eu disse pra mim. Tomei o onibus e nunca mais quis ser louca.

09/07/2009

gota.

De imponente à impotente em um estalar de dedos.
Meu filho vai ter nome de santo, e agora?

06/07/2009

Vômito de palavras

BB King gritava no celular e já eram seis da manhã. Nem sei dizer direito o porque de estar acordada uma hora dessas. Fui ver o único comentário do blog com as pernas bambas, poderia tanto ser ele...

Talvez toda essa vontade que as pessoas têm de ser diferentes é que as tornam iguais. Tão iguais, tão banais, tão naturais que depois de passado o efeito da bebida, elas simplesmente perdem a graça.
Depois de uma semana, fumei. Carlton. Fiquei bamba.
Depois de um baita porre, bebi. Vinho, vodka, cerveja, mijo-de-gato.

BB King está cantando uma música que eu gosto. Eu quase posso sentir o cheiro do lugar, me parece um ambiente impregnado de fumaça, os copos fazem barulho. Tim, tim. Tem luz vermelha, talvez seja um cabaré. Isso inspira a romance, beijo na boca, mão na bunda, tapa na cara e um tiro na cabeça.

When I first met you, baby
Baby, you were just sweet sixteen
When I first met you, baby
Baby, you were just sweet sixteen
You just left your home then, woman
Ah, the sweetest thing I'd ever seen

De mim pra mim mesma. Era assim que eu mandava imprimir nos cartões dos livros que comprava pela internet. Amarelo, azul, verde, branco. De mim pra mim mesma, assinado-Alessandra.

Não consegui ver todos os amigos, uns casaram, outros morreram, uns mudaram, outros simplesmente sumiram.
Ai se sêsse, como diria o poeta Zé da Luz.
Ontem mesmo, vi um filme onde a mulher com cara de Rosa, dizia que se todo mundo soubesse uma só poesia, uma mísera e curta poesia, o mundo seria bem melhor. Coisa de sonhador, como Cazuza, que só quando mais velho e doente, descobriu que queria mesmo ficar em cima do muro.

Agora sim, Heartbreak Hotel. Isso sim é o que me marca. Aquele sofá branco, os copos de cerveja, as balas de chocolate, a música. Eu sinto a temperatura daqueles dias, eu me lembro dos banhos de chuva.

Eu comecei com BB King, terminei com Elvis.
As coisas tomaram outro rumo e isso pela segunda vez, também é uma metáfora.

04/07/2009

Das antigas. Fevereiro de 2008.

Ela sempre permaneceu imóvel. Ficava em cima da escrivaninha. Muda e hirta como sempre. O papel já estava desgastado e havia manchas sobre ele. Não era uma impressão muito boa, tinha os tons das cores meio fora do padrão, deixando o beijo mais cor-de-rosa que o normal. Tinha seus lados dobrados com pouco primor. Um vinco no centro formava duas metades que se sustentavam.
Trazia consigo uma mancha desbotada em cima do ombro da menina. Partia do centro e se espalhava em forma de gotículas. Parecia água, quem sabe uma lágrima.
Se encontrava entitulada da seguinte maneira: "Alê e Totoin, te amo porque é só você."
Me espanta o conteúdo de um simples pedaço de papel. Afinal, não passava de uma imagem congelada. Apenas uma fotografia. Calada. Quieta.