15/07/2009

Setenta e duas vezes ou mais

Depois que eu liguei pra minha mãe chorando e contando onde estava, entrei no mini mercado pra comprar o passe. O dinheiro, que foi emprestado do porteiro do meu prédio, sobrou ao ponto de dar pra comprar um chocolate.
Sentei no meio fio, eu já não estava mais chorando. Abri o chocolate e me lembrei que comendo aquilo, teria no sangue a mesma quantidade de endorfina que é liberada durante um orgasmo.
Um monte de folhas secas no chão, a árvore das flores cor-de-rosa estava à minha frente, sempre imponete e florida, dessa vez povoada por periquitos. Eles gritavam, comiam os frutos, jogavam as flores ao chão, faziam festa. Ou riam de mim, ou pediam pra eu nunca mais fazer o que eu fiz.
Então eu pude perceber que alheio à tudo, o mundo continuava. As pessoas passavam por mim, os carros iam por onde deveriam ir, as nuvens se moviam, as horas do meu celular mudavam.
Um menininho riu da minha falta de cabelos, eu ri de volta pra ele. Fingi que era um gato, ameacei pegá-lo e o pobre saiu correndo.
Se toca garota, começa a rir, vai te fazer bem. Eu repetia isso mentalmente, duvidando que daria certo, umas setenta e duas vezes ou mais.
Respirei fundo, engoli aquela merda de choro. Larga de ser idiota, eu disse pra mim. Tomei o onibus e nunca mais quis ser louca.

Um comentário:

Plantão na Madrugada disse...

Esta Espécie de Loucura

Esta espécie de loucura
Que é pouco chamar talento
E que brilha em mim, na escura
Confusão do pensamento,

Não me traz felicidade;
Porque, enfim, sempre haverá
Sol ou sombra na cidade.
Mas em mim não sei o que há

Fernando Pessoa.