07/10/2009

Já era hora de eu parar

É inevitável não falar sobre isso. Eu ainda encontro os resquícios de algo que acabou de começar a acabar pela casa. São cartas, fotografias, bilhetes, papéis de bala e CDs...
... e estão por todos os lados, nos lugares mais improváveis, menos visitados, mais escondidos, mais marcantes até.
Cada pedacinho de papel me faz lembrar um cheiro, um lugar, um gemido, um abraço, não esquecidos, mas que dormiam em algum lugar da mente.
De meias, ouvindo The Strokes, aquela música em que eu era um trem me movendo muito rápido e você havia me alertado sobre isso.
Não quero fazer mais nenhuma fogueira, já foram cinco no meu jardim. Quero abraçar esse monte de papel e chorar até me desfazer, mastigar todos eles, colocar pra dentro de mim, fazer ser parte de mim mais uma vez.
Já era hora de eu parar.
Agora me resta seguir sozinha.

Um comentário:

Eu.com.baunilha disse...

Confundimos as coisas que têm história com coisas que têm vida. Sei como é, já passei por isso, e passo até hoje. Um objeto inanimado é o gatilho para uma reação em cadeia nos nossos neurônios, jogando eletricidade pra todos os lados e reativando e reabrindo antigos arquivos esquecidos, aqueles arquivos que estão no fundo do armário de baixo, na edícula do quintal... Não jogamos nada fora, mas escondemos esperando que se desfaçam, todos os arquivos/memórias/papéis-de-bala, com o tempo. Mas a gente se divide. A gente fica entre uma coisa e outra. A gente não quer ver, não quer lembrar, mas ao mesmo tempo quer, e o cérebro começa a brigar com ele mesmo. Se segurando pra não fuçar nas gavetas da mente, e ao mesmo tempo desejando todo o conteúdo.
Fogueiras não ajudam. Palavra. Não adianta jogar fora as representações inanimadas, já que os arquivos não se apagam da cabeça. O nosso cérebro é nosso disco-rígido, e como nos computadores, você não apaga nada realmente, apenas remarca o espaço para reutilizar quando necessário. A informação continua lá e, uma hora ou outra, você acaba encontrando, relembrando, a não ser que grave encima com informação nova.
O jeito é cair no mundanismo do cliché, e aceitar que every new beginning comes from some other beginning's end.
Por mais piegas que possa soar, só o novo para substituir o antigo.