23/07/2011

Quem começou me dando o primeiro beijo da minha vida me traiu.
Quem começou me colocando pra dormir e passando a chave por debaixo da porta quando ia embora, me traiu.
Quem começou me olhando de longe numa festa à fantasia me traiu.
No fim das contas, quem não me traiu foi quem começou me devendo. Me devendo cinco centavos.

22/07/2011

Outros "vários outros"

Dead Meadow.
Olhei várias vezes nos olhos de vários outros enquanto escutava a mesma música. Percorri com os dedos a pele dos outros, tentando estar realmente com os outros. Abaixei a cabeça no peito de outros, respirei fundo várias vezes.
Esse sentimento tem me dado uma boa trégua, mas de vez em quando parece que assopra no meu olho, só pra me fazer chorar, como se dissesse: "Eu ainda estou aqui, não vou deixar que finja que nunca existi".
A cabeça encostada, os olhos nos olhos, a boca na boca e o pensamento a alguns quilômetros de distância ou ha alguns anos atrás.

13/07/2011

Herói etílico.
Não fui eu quem disse, mas to começando a achar que sim.

06/07/2011

Páscoa

Dentro do ônibus.
Do lado de um negão.
Entra o velho fedorento que fez todo mundo se torcer o nariz.
Ele conversa cuspindo, fazendo barulho de peido com a boca.
Eu abaixo a cabeça pra não ter que encarar aquele rosto desprezível. Puta que me pariu, que velho fedido.
O desgraçado começa a contar uma história sobre sua mulher que está internado do hospital do câncer e que ele precisa de dinheiro pra comer, pra voltar pra casa, pra comprar arroz, cigarro, bebida, crack, sei lá.
Um detalhe importante é que ele não olha pras pessoas, olha pro chão. Ou melhor, olha pro nada. Só a cabeça é que está virada em direção ao chão, mas seu olhar é vazio. Talvez estivesse bêbado.
Começo a respirar pela boca, o velho fede demais e o povo tem nojo de encostar nele. As pessoas dão a volta para sair pelo outro lado do ônibus.
Eu subo o som, o fone de ouvido no máximo faz parecer que a cena é coisa de filme. Uma música triste e o velho falando, gesticulando, cuspindo e coçando o saco. Eu me divirto.
Me levanto, me desvio com dificuldade e saio do onibus.
Venho o caminho pra casa pensando em como escrever esse texto, com a sandália acabando com o meu pé.