06/07/2011

Páscoa

Dentro do ônibus.
Do lado de um negão.
Entra o velho fedorento que fez todo mundo se torcer o nariz.
Ele conversa cuspindo, fazendo barulho de peido com a boca.
Eu abaixo a cabeça pra não ter que encarar aquele rosto desprezível. Puta que me pariu, que velho fedido.
O desgraçado começa a contar uma história sobre sua mulher que está internado do hospital do câncer e que ele precisa de dinheiro pra comer, pra voltar pra casa, pra comprar arroz, cigarro, bebida, crack, sei lá.
Um detalhe importante é que ele não olha pras pessoas, olha pro chão. Ou melhor, olha pro nada. Só a cabeça é que está virada em direção ao chão, mas seu olhar é vazio. Talvez estivesse bêbado.
Começo a respirar pela boca, o velho fede demais e o povo tem nojo de encostar nele. As pessoas dão a volta para sair pelo outro lado do ônibus.
Eu subo o som, o fone de ouvido no máximo faz parecer que a cena é coisa de filme. Uma música triste e o velho falando, gesticulando, cuspindo e coçando o saco. Eu me divirto.
Me levanto, me desvio com dificuldade e saio do onibus.
Venho o caminho pra casa pensando em como escrever esse texto, com a sandália acabando com o meu pé.

Um comentário:

José Abrão disse...

conheço exatamente essa situação. Andar de ônibus é fogo =/